Fiquei ansiosa
com o seu futuro, mas, afortunadamente, a doença só a afetou de leve.
Com a ajuda dos programas de terapia, ela não tardou a aprender a andar.
Antes que eu tivesse tempo de exalar um suspiro de alívio, fui abençoada
com a minha segunda gravidez. Tinha certeza de que dessa vez o bebê ia
nascer com saúde, mas a minha esperança se esfumou rapidamente. Pouco
tempo depois do parto, também diagnosticaram em Takefumi um caso de paralisia
cerebral mais grave que o da irmã. Por que isso acontecera comigo, com
os meus dois filhos? A vida feliz a que eu aspirava esfarelou-se diante
dos meus olhos; de repente, o futuro que parecia tão brilhante e promissor
deixou de sê-lo.
Por
mais que eu tentasse, Takefumi não aprendia a andar. Tinha dificuldade
para dormir e, com muita frequência, passava a noite toda chorando. Durante
o dia, queria passear, de modo que eu percorria toda a cidade de Kyoto
empurrando o carrinho de bebê. O sor riso feliz e inocente dos meus filhos
me estimulava e me enchia de força para prosseguir, mas eu não dava conta
de tudo sozinha. Queria contar com o meu marido, mas ele parecia mais
interessado no trabalho que na família. Deixava o cuidado da casa e das
crianças para mim e mergulhava de corpo e alma no trabalho. Raramente
nós conversávamos a sério. Talvez tivéssemos nos casado muito cedo. Era
como se ele não pudesse aceitar a deficiência dos filhos.
Consegui matricular
Arisa numa escola de crianças normais – mas ela tirava as piores notas
e era objeto constante da zombaria dos colegas. Doía-me muito pensar na
pouquíssima chance que meus filhos teriam no futuro, mas eu dizia a mim
mesma que era preciso continuar, que um dia eles seriam capazes de brilhar.
Enquanto esse dia não chegasse, eu precisava ser forte por eles.
A
Doença
No entanto, esgotada física e emocionalmente, eu fui me recolhendo,
já quase não saía de casa e, à mercê da solidão e da incerteza, vivia
chorando pelos cantos. Vendo o meu estado cada vez pior, o meu marido
finalmente decidiu tirar férias e levar a família ao Havaí. A viagem foi
maravilhosa, mas durou pouco. No táxi, indo do aeroporto para casa, a
sensação de não saber como seguir adiante foi tão esmagadora que eu não
aguentei, mal podia respirar. Em casa, o ar estava tão carregado que eu
não tinha sossego. Quando anoiteceu, foi como se a escuridão fosse me
engolir. Com medo e sem conseguir pegar no sono, saí sem rumo pelas ruas
escuras.
Quando
finalmente me diagnosticaram, disseram que o nome da minha doença era
esquizofrenia. Desde então, eu já não podia ir a lugar nenhum sem os remédios
que me prescreveram. A lembrança que guardo desse período da vida é nebulosa:
como se eu estivesse vagando numa terra estrangeira, sempre com medo,
sempre querendo fugir da dor de viver. Fui hospitalizada muitas vezes,
cheguei a ficar no isolamento e tentei suicídio tomando uma overdose de
remédio. Só sabia pensar em me evadir de tudo.
Dez anos depois,
eu ainda estava às voltas com a esquizofrenia quando o meu marido morreu
subitamente de ataque cardíaco. Deixou-me com uma dívida de 300 08 experiência
de vida | a vida é um caderno de exercícios milhões de ienes (aproximadamente
5,7 milhões de reais) na sua empresa, a conta da cirurgia por pagar e
a despesa de tratamento e educação de dois filhos, para não falar na minha
esquizofrenia. Essa realidade terrível deixou-me simplesmente arrasada.
A Descoberta da
Happy Science
Para pagar a dívida, vendi a casa e me mudei com os meus filhos para um
apartamento. Foi nessa época que o sr. Saiki, um parceiro de negócios
do meu marido, me deu o livro As Leis do Sol. Quando o li, fiquei admirada
com a clareza com que dava resposta às muitas dúvidas que eu tinha a respeito
da vida.
Logo depois,
comecei a frequentar o templo local da Happy Science, onde fazia trabalho
voluntário e participava de diversos eventos. Entretanto, quando o meu
estado de saúde piorava, era uma luta ler os livros do mestre Okawa. Tentei
assistir às suas palestras, mas a sua voz sumia em meio a um rumor no
meu ouvido, de modo que eu não captava mais do que uma imagem borrada
dele falando; ouvir as fitas cassete de suas palestras fazia com que me
sentisse sufocada.
Quando eu melhorava,
podia diminuir a quantidade de remédios, mas isso só servia para que eu
voltasse a piorar. Os medicamentos me deixavam extremamente cansada. Quando
eu me perguntava quanto tempo ainda teria de viver com aquela enfermidade,
ficava profundamente desesperada. Houve ocasiões em que tomei consciência,
subitamente, de que estava perambulando pelas ruas de madrugada, como
que conduzida por uma coisa invisível, e precisei tomar um táxi para voltar
para casa. Certa manhã, encontraram-me desacordada à beira do rio e chamaram
a polícia. Tinha perdido os sapatos durante a noite e estava com os calcanhares
sangrando. Só posso agradecer aos amigos do templo que me ajudaram a cuidar
dos meninos nesse período.
Quando eu estava
bem, consegui estudar a doutrina e, quanto mais a estudava, mais crescia
a minha convicção sobre a sua Verdade. “Se Deus diz que não existe coincidência,
a minha doença há de ter um significado!” Eu me agarrei a essa esperança
a fim de me estimular a combater a minha moléstia.
Felizmente,
o apartamento que o meu marido possuía foi vendido e isso me permitiu
amortizar as dívidas. Assim, voltei para a casa da minha família na província
de Mie. Lá fui apresentada a um psiquiatra que também era membro da Happy
Science. O que ele me disse depois do primeiro exame foi uma grande surpresa:
“Kaoru, o seu estado não é grave. É curável.”
Fiquei sem
saber o que dizer. “Os remédios só existem para ajudar”, prosseguiu ele.
“Você só vai se curar quando mudar o estado do seu coração. A partir de
hoje, limpe a sua casa, mas sempre tendo pensamentos de gratidão, e leia
diariamente os livros do mestre Okawa em voz alta.”
Mudar o estado
do meu coração? Fazer a faxina? Como ele quer que eu faça isso no estado
em que me encontro? Eu não acreditava, mas estava louca para sarar. Comecei
a fazer a limpeza e, ao mesmo tempo, repetia: “Obrigada, papai; obrigada,
mamãe; obrigada, Arisa; obrigada, Takefumi...” Repetia as palavras muitas
e muitas vezes, mas elas não vinham do coração. Aqui dentro, eu continuava
frustrada e com raiva porque não me agradeciam e nem mesmo reconheciam
que eu estava “fazendo um traba lho manua l pesado”; limpando a casa apesar
do meu estado.
Também tentei
ler os livros em voz alta, mas era como se os meus ouvidos estivessem
tapados. Eu não conseguia entender o que lia. Se a vida é uma prova, receber
amor e ser amada é o que mais impor ta, mesmo que a gente saiba que amor
é uma coisa que se dá, não que se recebe. Eu queria ser amada. Queria
ser compreendida. Não sabia por que ninguém entendia nem se preocupava
com o muito que eu estava sofrendo. Mesmo assim, continuei fazendo a faxina
e lendo.
Removendo a Ferrugem
do Coração
Já fazia
alguns meses que eu estava nisso quando, um dia, ao terminar o trabalho
como de costume, senti uma leveza que nunca tinha sentido até então. No
começo, não consegui entender do que se tratava, mas sabia que eu estava
maravilhosamente bem.
Em geral, sentia
o corpo cansado e pesado; nunca me sentia bem depois da limpeza da casa.
Mas naquele dia eu me senti tão bem que tive vontade de fazer a faxina
todo dia só para experimentar aquela sensação. Já não era importante ser
reconhecida pelo meu esforço: eu queria fazer a limpeza porque queria
a casa limpa. Mais ou menos nessa época, também comecei a entender o significado
das palavras que lia em voz alta. Percebi que, com a atividade de arrumar
a casa, eu removia as impurezas do meu coração.
Desse dia em
diante, o meu estado de saúde nunca mais piorou por eu ter deixado de
tomar o remédio. Perguntei ao médico se eu podia parar de vez com a medicação,
e ele respondeu com um eufórico “Sim!” Com a aprovação do médico, fiquei
oficialmente curada da minha doença. Isso me deixou tão contente que eu
era capaz de levitar.
Olhando
para trás hoje, percebo que mesmo naqueles momentos de sofr imento e luta,
eu sempre contei com o apoio do amor dos meus filhos, do meu marido, dos
meus pais, dos amigos e de Deus. Com dois filhos que precisavam de cuidado
especial, o meu marido morto e eu mesma com esquizofrenia, a minha vida
ficou, de fato, abarrotada de sofrimento e luta. Mas sem essas provações,
não sei se eu teria conseguido sair do “eu” que só sabia pensar em si
e chegar a compreender o que são amor e felicidade verdadeiros.
Atualmente,
as palavras “A vida é um caderno de exercícios” e “Deus nunca lhe dá mais
do que você pode carregar” soam como verdade ao meu coração. Há muitas
ocasiões de sofrimento e tristeza na vida. Antes de encontrar essa doutrina,
eu me deixava esmagar pelo desespero toda vez que enfrentava esses períodos
difíceis. Entretanto, agora que sei que a provação e o sofrimento existem
para desenvolver a minha alma, sei que nada tenho a temer; a minha fé
no Senhor e uma forte convicção acerca da Verdade tornaram-me forte.
Agora
tenho emprego e, nas horas vagas, faço trabalho voluntário no temorando
com minha filha 12 experiência de vida | a vida é um caderno de exercícios
plo da Happy Science. Arisa é coordenadora de assistência social e ajuda
artistas deficientes a criarem e venderem suas obras. Takefumi vive feliz
com outros como ele. Quanto a mim, o meu desejo é usar a vida em benefício
do maior número de pessoas possível. O meu coração está repleto de felicidade
sabendo que as minhas experiências podem ajudar muita gente que, atualmente,
está enfrentado dificuldades parecidas com as que eu enfrentei. Espero
oferecer todo o apoio e orientação que puder.
A Arisa e Takefumi,
que optaram por ter uma vida dificílima e também decidiram ser meus filhos,
muito obrigada. Foi o sorriso de vocês que me deu força para enfrentar
aqueles tempos difíceis. Eu não teria me recuperado se vocês não existissem
para me ajudar. Vocês cresceram para ser fortes; eu sempre rezarei para
que a sua vida seja cheia de felicidade.
por
Kaoru Komatsu
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