Construímos
uma casa no mesmo ano em que nos casamos. Durante a semana, ambos trabalhávamos,
mas os fins de semana, sempre os passávamos juntos. Foi um período feliz
para ambos. Porém, pouco mais de um ano depois, eu notei que ele andava
diferente, muito mais sério e calado. Embora isso me deixasse preocupada,
não tive coragem de lhe perguntar o que estava acontecendo. Só o soube
quando ele tomou a iniciativa de me contar. Ocorre que meu marido e um
amigo tinham feito um investimento que dera em prejuízo e, agora, estávamos
com uma dívida de quase 100 mil dólares.
Cem mil dólares!
Eu estremeci ao saber. Como iríamos pagar tanto dinheiro e, ainda por
cima, amortizar o financiamento da casa? E como conseguiríamos sobreviver?
Agoniada com a necessidade de dar um jeito de equilibrar o orçamento,
lembrei-me de uma vendedora de seguro que uma vez me disse: “Neste negócio,
não é impossível ganhar 100 mil dólares por ano se você se empenhar.”
Tal possibilidade
me animou. Em pouco tempo, arranjei colocação como agente de vendas de
seguro de vida e passei a trabalhar com afinco para pôr dinheiro em casa.
Só depois foi que contei ao meu marido que havia mudado de emprego --
a ideia não lhe agradou, mas como era ele quem nos tinha enterrado em
dívidas, não me fez pedir demissão.
Foi
por pura coincidência que comecei a trabalhar na indústria de seguros,
mas resultou que me dei muito bem com a atividade. Tive sorte com os clientes
e, em breve, graças ao meu desempenho, destaquei-me entre centenas de
outros agentes de vendas. Os clientes eram a minha prioridade máxima,
e, quando lhes convinha, eu não hesitava em agendar contatos à noite e
nos fins de semana. Naturalmente, comecei a passar cada vez menos tempo
com o meu marido. Embora eu ganhasse cada vez mais dinheiro, ele não só
não gostava daquilo como se queixava incessantemente. Eu não entendia
o porquê de tanta reclamação, afinal eu trabalhava fora e cuidava de nossa
casa. Farta daquilo e vendo que as nossas finanças estavam mais administráveis,
passei a sair com frequência, ia jantar com amigos e gastava o meu dinheiro
em coisas que queria. Tinha orgulho de trabalhar e ganhar tanto quanto
um homem. A essa altura, o meu marido era pouco mais que um colega que
morava n a mesma casa, e, pouco a pouco, começou a me ocorrer a palavra
“divórcio”.
Separação
“Você
não para mais em casa. O que está acontecendo?”. Um dia, o meu marido
questionou seriamente o meu comportamento. Eu confessei bruscamente o
que já havia tempo me passava pela cabeça: “Estou farta de suas reclamações:
quero me divorciar!” “Que história é essa?!? Não, de jeito nenhum!” A
sua objeção foi tão veemente que fiquei surpresa. “Por quê? Não faz sentido
continuar nesta relação.” Mas ele se recusou obstinadamente. Como eu também
não estava disposta a voltar atrás, nós não fazíamos senão brigar, e muito,
toda vez que nos encontrávamos: eu exigindo o divórcio, ele a recusá-lo
peremptoriamente. Ameaçou levar o caso à Justiça e, às vezes, se enfurecia
tanto que chegava a ficar violento.
Visita inesperada
Fazia
um ano que estávamos nessa situação quando, uma noite, visitantes inesperados
bateram à porta. Era um colega do meu marido e sua esposa, aos quais ele
pedira que nos ajudasse a resolver o nosso problema. “Nós vivemos gritando
um com o outro e a vida que estamos levando não tem nenhum futuro”, explicou.
O casal escutou
as duas versões da história com uma calma e uma paciência que me causaram
admiração. Eles tinham uma qualidade de caráter diferente da de todas
as pessoas que eu conhecia. Soube que eram membros da Happy Science, que
eu conhecia um pouco, pois o meu marido às vezes lia seus livros e revistas.
Eu também havia lido parte do material escrito sobre o trabalho e achava
interessante o que dizia. Aquele encontro deixou-me mais intrigada com
a instituição.
Em
busca de uma solução
Dias
depois, o meu marido e eu visitamos o templo mais próximo da Happy Science
e expusemos o nosso problema ao monge. “Não é verdade!”, exclamou o meu
marido, interrompendo- me quando eu falava. “Não é verdade por quê?”,
retruquei. E nós começamos a brigar na presença do monge. “Os dois têm
uma parcela de razão, mas o que vocês acham de estudar a doutrina e depois
tratar de usá-la para decidir o que fazer?” Ele nos acalmou e propôs que
prometêssemos estudar e praticar os ensinamentos ingressando como membros.
O meu marido concordou, mas eu hesitei um pouco, embora sentisse que algo
podia mudar se eu entrasse na Happy Science. Sabia que era preciso fazer
alguma coisa para dar um jeito em nossa vida, de modo que também assumi
o compromisso.
Embora nos
dedicássemos a estudar e praticar a doutrina, nós o fazíamos separadamente.
Ele ia ao templo sozinho, e eu o frequentava com as amigas depois do trabalho.
O monge e minhas amigas ouviam incansavelmente as minhas lamúrias e ameaças
de me divorciar dele. Diziam, “A vida é um caderno de exercícios. Talvez
você precise aprender alguma coisa com esse relacionamento. Se você o
abandonar, pode ser que depois torne a enfrentar um problema semelhante.”
No entanto, eu não podia admitir que os maridos e as esposas tivessem
um vínculo particularmente especial. “Duvido que ele e eu tenhamos esse
tipo de ligação”, disse, rindo. Mas eles prosseguiram: “Convém você preparar
uma lista das coisas que ele fez por você e dos seus aspectos positivos.
Sempre que se irritar, antes de criticá-lo com palavras duras, respire
fundo. Isso a acalmará.” Deram-me toda sorte de conselhos, desde a culinária
até a limpeza da casa. A sensação de que eu precisava fazer alguma coisa
aumentou.
Enxergando a verdade
Um
dia, uma amiga me emprestou um livro do mestre Okawa, insistindo para
que eu lesse determinada seção. Falava das questões financeiras de um
casal.
“Quando
o poder financeiro da esposa supera o do marido, isto é, quando ela
ganha mais do que ele, pelo que eu tenho observado, mais de oitenta
por cento desses casamentos acabam em divórcio ou coisa parecida.”
É
justamente o nosso problema, pensei. Houve um período em
que eu ganhava mais que ele.
A
competição entre marido e mulher pode transformar o
lar num inferno.
Essa revelação
foi um verdadeiro estalo na minha cabeça. Eu comecei a trabalhar na companhia
de seguros a fim de ajudar a pagar as dívidas, mas o meu orgulho de ser
capaz de administrar tanto a casa quanto o emprego acabou se transformando,
inadvertidamente, num sentimento de competição.
“Se
você pensar sempre : ‘O motivo pelo qual o meu trabalho vai tão bem
é porque o meu marido é muito compreensivo’, e se você sempre disser
isso em voz alta, não haverá rivalidade entre vocês.”
Ocorreu-me
que eu nunca havia agradecido ao meu marido. “Preciso ser mais cuidadosa...”,
pensei. E, na primeira oportunidade, tentei: “Você quer um café?” “O quê?
A h, quero, obrigado.” Ele ficou surpreso, mas quando eu procurei ser
gentil, também foi gentil comigo. Pouco a pouco, comecei a acreditar que
o princípio “a outra pessoa muda quando você muda” podia ser verdadeiro.
Compreendendo-o
O
momento decisivo chegou num seminário da Happy Science de que participei.
Eu estava recordando o quanto o nosso relacionamento havia se deteriorado,
que eu mudara de emprego pelo nosso bem, mas ele não gostou disso. Como
ele podia se zangar justo quando eu estava trabalhando tanto? Isso me
irritou de tal modo que eu perdi o interesse por ele. Mas, súbito, lembrei-me
dele dizendo que queria pagar o financiamento da casa o mais depressa
possível... O meu marido não era negligente com o dinheiro e, pensando
bem, aquele investimento fracassado foi o primeiro e último problema financeiro
que tivemos. Nessa ocasião, eu me dei conta de que ele não gastara o dinheiro
por capricho. Gastara-o porque queria aliviar a carga do financiamento
da casa, aliviar a minha carga. Eu passei o tempo todo preocupada com
o dinheiro e nunca parei para pensar nos sentimentos dele. Senti muita
vergonha da minha arrogância.
Uma mudança
no ar
Ao
chegar em casa, pedi desculpas imediatamente: “Percebi agora o quanto
fui egoísta. Lamento, eu devia ter pensado nas coisas pelas quais você
estava passando.” Então ele também pediu desculpas, dizendo: “Eu reconheço
que fui bastante irracional, sinto muito.” Uma brisa cálida, a qual fazia
tempo eu não sentia, soprou entre nós. Naquele momento, tomei a decisão:
ia fazer o possível para que o nosso casamento desse certo.
Comecei por
seguir o conselho que me tinham dado no passado. Passei a limpar a casa
para que se transformasse num lar ao qual valia a pena voltar. Também
tratei de cozinhar com carinho, fazendo os seus pratos preferidos. Para
estar em casa nos fins de semana e não ter de trabalhar à noite, mudei
de emprego e comecei a trabalhar na administração de uma clínica médica.
Lenta, mas
seguramente, vi o meu marido mudar, deixar de ser tenso e contrariado,
e se tornar mais gentil e calmo. Dia após dia, eu sentia que estávamos
mais sintonizados um com o outro. Foi fascinante vivenciar uma mudança
tão real e também uma alegria enorme voltar a ser como éramos quando nos
casamos. Creio que a sensação de paz e segurança recuperadas em casa também
afetou o seu desempenho profissional, pois, não muito tempo depois, ele
foi premiado no trabalho e promovido.

A alegria
de ser uma família
Não
demorou muito e tivemos nosso primeiro filho em nosso lar. Ver o meu marido
arranjar tempo para brincar com ele antes de ir para o trabalho me dava
tanta alegria que eu desisti definitivamente de me divorciar. No começo,
não acreditava que marido e mulher tivessem um vínculo especial, mas agora
acredito. Obrigada, Senhor, porque, se não houvesse descoberto a fé, eu
teria trilhado o caminho do divórcio e nunca perceberia que estava me
afastando da oportunidade de descobrir o vínculo entre nós e a felicidade
de ser uma família.
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