O Gerente
No
meu primeiro dia no escritório, durante a reunião matinal, o gerente perguntou
a um dos vinte e poucos representantes de vendas acerca do andamento de
um negócio potencial.
Ahn,
bem, a esposa diz que quer consultar outra empresa para construir...
O gerente se pôs aos berros antes que ele concluísse.
O que você pretende fazer!?
O ar na sala congelou.
Vou, vou conversar mais uma vez com eles!
Você não fechou nenhum contrato no mês passado
nem no mês anterior. Diga o que pretende fazer!
O
pobre vendedor respondeu com uma voz que mais parecia um guincho esganiçado:
Vou fazer
o possível para conseguir o contrato...! Mas o gerente foi
implacável.
E o que você vai fazer se não conseguir o contrato,
hem!? Hem!? Fale!
Se não o conseguir, eu peço demissão!
Pede demissão. Pois, se não conseguir o contrato,
é bom mesmo que tenha a coragem de pedir demissão!
E, dirigindo-se a todos, ele gritou:
É graças a mim que vocês são pagos! Procurem
ser úteis para variar!
Mesmo quando a reunião terminou, o gerente continuou insultando
os representantes de vendas e o vice-gerente. Por que vocês
são tão incapazes!? Cambada de parasitas. Nunca vi gente
tão burra!
Eu baixei a
cabeça e tentei me concentrar no trabalho que me cabia fazer, mas, por
dentro, estava tremendo de medo e ansiedade. O meu local de trabalho era
comandado por um verdadeiro ditador.
Insultos constantes
Não
havia um dia em que o gerente não agredisse alguém verbalmente. Ele se
enfurecia com os erros mais insignificantes no trabalho administrativo,
nos seus acessos de cólera, não hesitava em atirar cinzeiros e canetas.
Entretanto, na frente dos clientes, era uma pessoa completamente diferente.
“Pois não,
eu entendo, compreendo perfeitamente. E agradeço muito a sua tolerância.”
Surpresa com
aquela voz desconhecida, eu me virei e vi o gerente reclinado na cadeira,
os pés em cima da escrivaninha, com um ar sumamente entediado enquanto
falava com o cliente ao telefone. Nas poucas vezes em que estava bem-humorado,
ficava se vangloriando de ser um ótimo homem de negócios: “Eu conto histórias
que lhes dão lágrimas nos olhos. É assim que faço com que assinem o contrato
de compra”, alardeava. Eu o achava a pessoa mais insolente e descarada
do mundo.
Sua atitude
abusiva e arrogante era conhecida em toda a empresa. “Mas ele produz resultados
, por isso o diretor prefere fechar os olhos e não dizer nada”, resmungavam
os colegas. Todos o elogiavam e aplaudiam quando ele falava nas suas façanhas,
mas, assim que saía, começavam a desancá-lo. Pior ainda: meus colegas
falavam mal uns dos outros pelas costas, levando-me a descon fiar que
faziam a mesma coisa comigo. Eu sentia que não podia confiar em ninguém
no escritório.
Era muito desagradável
ouvi-lo gritar com os outros; mas o meu coração se encolhia todo quando
ele se punha a gritar comigo.
Por que
você não limpou a maquete da casa? Por quê!?
Desculpe, é que eu tive de redigir um relatório urgente...
Não me venha com pretextos. Quantas vezes eu preciso dizer
a mesma coisa? Sua idiota!
“Agüente pelo
menos três meses”, eu dizia comigo. Mas comecei a ter medo de ir trabalhar,
e isso chegou a tal ponto que certa manhã fiquei petrificada e acabei
vomitando na entrada da minha casa. Vendo o meu estado, a minha família
se assustou muito.
Pedindo ajuda
Eu
sabia que precisava de ajuda. Comecei a ler o Darma do Correto Coração,
a oração primeira e fundamental da Happy Science. Quando me compenetrei
em recitar a oração, senti o coração passar de um mar revolto para um
lago sereno e manso, e isso me deu energia e força de vontade para voltar
ao trabalho.
Minha mãe aconselhou:
“Sejam quais forem as circunstâncias, a única pergunta que merece resposta
é ‘Você continua sendo capaz de dar amor aos demais?’ Veja como é simples.”
Suas palavras reverberaram em meu coração. Ela tinha razão. Eu posso fugir
dos meus problemas, mas, se não os enfrentar e desenvolver com eles, esses
mesmos problemas voltarão a me acossar. As pessoas são o espelho de cada
um de nós. Por isso, em vez de tentar mudar os outros, primeiro eu devo
procurar mudar a mim mesma.
“Em tempo
de adversidade, devemos praticar o amor que dá.”
Mas, para mim, era quase impossível dar amor àquele chefe detestável.
Estudei a doutrina com afinco, mas não era nada fácil livrar-me do ressentimento
profundo.
O que todo mundo
realmente quer...
Continuei
estudando, orando, fazendo auto reflexão e meditando, mas, depois de um
ano, tinha progredido muito pouco. Um dia, eu estava conversando com a
monja da minha Sucursal da Happy Science.
“Não sei o
que fazer para praticar o amor que dá no escritório. Não que eu não esteja
tentando, estou, sim, mas...”
Depois de ouvir
atentamente minha história, ela disse: “Tentar transformar o ambiente
de trabalho hostil num ambiente mais amigável é uma prática de amor, mas
no local de trabalho, amar é ajudar os outros a serem promovidos.”
“Ajudar os
outros a serem promovidos?”
A resposta
me surpreendeu, mas ela tinha razão. Vender mais e aumentar o lucro era
a única coisa que importava ao pessoal do escritório. Ninguém se preocupava
em ter um ambiente de trabalho mais agradável. O que eu precisava fazer
era ajudar a todos a terem sucesso. Naturalmente, o aumento de vendas
do showroom teria de ir a par com o aumento da satisfação do cliente.
Neste caso, a minha meta era fazer realmente feliz todo cliente que escolhesse
a nossa empresa, e isso, eu sabia, era a chave da solução dos problemas
do escritório.
Dando amor no
escritório
Daquele
dia em diante, passei a pensar seriamente no que fazer para apoiar os
meus colegas.
“Quem
procura dar amor deve começar por comprometer o próprio coração com a
tarefa que lhe for atribuída. Deve levar em consideração as exigências
alheias e tudo o mais, pois você e todos os outros precisam começar a
se aprimorar como resultado do seu esforço.”
Extraído do livro: Sobre Trabalho e Amor (publicado pela Happy Science
e disponível somente em japonês.
Eu me dei conta
de que podia fazer muita coisa. Comecei a preparar um material de apresentação
mais útil aos vendedores e mais agradável para os clientes. Dediquei-me
muito à atenção para com os clientes, desejando que seu sonho de construir
a casa própria se realizasse da melhor maneira possível.
Havia ocasiões
em que eu tinha de cuidar de uma tonelada de afazeres ao mesmo tempo,
mas me empenhava para concluí-los no prazo previsto.
Logo, comecei
a fazer o meu trabalho, diariamente, rezando para que as tarefas de que
me incumbiam levassem felicidade a alguém. O meu esforço às vezes frutificava
como realização de outra pessoa, às vezes não, mas era uma grande alegria
para mim poder trabalhar pelo bem dos outros. Isso me fortalecia à medida
que a beligerância do gerente me afetava menos, e eu deixei de fazer caso
das suas palavras agressivas, até agradecia as críticas com facilidade
cada vez maior.
Descobrindo o
filho de Deus
Meses
depois de eu ter tomado a decisão de construir uma atitude positiva, houve
a oportunidade de todos os empregados da cidade de se reunirem num encontro
da empresa. Por coincidência, eu estava sentada ao lado do gerente quando,
naquele ambiente festivo e entre aperitivos, ele me disse subitamente:
“Peço desculpas por tudo.”
Tive a impressão
de que não o ouvira bem. Não lembro da resposta que lhe dei, mas naquele
momento percebi que, apesar do seu temperamento horrível, ele também tinha
algo de bom.
Foi
como se Deus me tivesse mostrado fugazmente o verdadeiro eu do gerente
para me estimular. No dia seguinte, contei a todos o que ele havia dito.
Meus colegas descartaram a ideia, dizendo: “É impossível que esse sujeito
seja uma boa pessoa. Você não deve confiar nele.” Desisti de tentar convencê-los,
mas tomei a resolução de acreditar que o gerente também era filho de Deus,
ainda que eu fosse a única a acreditar nisso.
Nossos corações
estão ligados
Primeiro,
as pessoas cessaram de falar mal umas das outras. A seguir, começaram
a sorrir mais e a reclamar menos do gerente. Em breve, o escritório se
transformou num ambiente muito mais amigável. Então o gerente foi promovido
a chefe de departamento. Nós preparamos uma festa surpresa para ele e
providenciamos flores e presentes. Foi então que notamos que a sua atitude
começava a mudar.
“Digam como
está indo esse negócio. Se vocês tiverem dificuldade para convencer a
esposa, eu vou junto.”
Em vez de se
irritar e gritar com os vendedores, ele engolia a raiva e mostrava um
esforço real para encontrar um meio de ajudá- los. Os outros repararam
que agora ele pensava mais no desempenho deles do que no seu próprio e
não deixaram de expressar gratidão. As vendas aumentaram, e o nosso showroom
não tardou a ser o queridinho da empresa.
A adversidade
é a oportunidade de polir a nossa alma
Eu
trabalhei quatro anos no showroom e, nesse período, aprendi a ter muito
carinho pelo meu gerente e a respeitá-lo imensamente. Ele também disse
que, sem mim, o showroom não teria se saído tão bem. Certa vez, um gerente
de outro showroom me contou que o meu chefe havia dito que “Ele pensava
que sua função era pressionar a equipe a fim de obter resultados, mas
isso só fez os empregados a detestá-lo. Agora sabe que estava muito errado
e se dispõe a mudar.”
Eu
custei a acreditar que o meu gerente, que era tão autoritário, tivesse
mudado tanto.
“Como nenhum
membro novo da equipe aguentava trabalhar por muito tempo com ele, pensamos
que você também não tardaria a pedir demissão. Mas você conseguiu se dar
muito bem. É uma façanha.”
Saber que havia
quem me visse desse modo compensou toda a amargura que eu suportei desde
que entrei na empresa. Essa experiência deu-me segurança e paciência para
enfrentar os problemas com que me deparei na minha função seguinte, e
agora eu gosto muito do meu trabalho no meu novo ambiente.
Quando comecei
na empresa, não havia um dia que não fosse um martírio e eu sentia que
estava enfrentando a pior etapa da minha vida. Mas, olhando para trás,
percebo a importância daqueles dias e só posso agradecer ter conhecido
meu patrão, pois, sem aquelas provações e lutas, eu não teria sido capaz
de me apossar dos tesouros que agora possuo.
|