Por Que Ela Não
Fala?
Além
de não se interessar pela educação da nossa f ilha e deixar todo o trabalho
para mim, o homem com quem me casei tinha uma renda instável. Nossa filha
demorou a falar e só aos cinco anos foi capaz de uma conversa coerente.
Eu pedia muito ao meu marido que estabilizasse um pouco as finanças da
família e me ajudasse a criá-la, mas o proprietário não parava de telefonar
cobrando o aluguel atrasado. Cada vez que o telefone tocava, a menina
começava a chorar, e aquilo me enlouquecia. Eu estava com os nervos à
flor pele e vivia pensando: “Quero sair desta vida!” Mas, inesperadamente,
engravidei outra vez e tive meu segundo bebê, agora um menino.
O recém-nascido
era mais problemático ainda. Mesmo estando com fome, não chorava e não
mamava. Eu era obrigada a abrir sua boca quase à força e, apesar da choradeira,
enfiar o alimento goela abaixo. Ele quase não tinha contato visual comigo
quando eu lhe falava. “Não sei o que esse menino quer. Como vou criá-lo
e cuidar dele?” Minha filha continuava dando muito trabalho e, às vezes,
eu não aguentava a frustração e gritava com ela: “Por que você não para
de chorar? Como eu vou saber, se você não diz uma palavra? Coma e pare
de fazer manha!” Eu me divorciei do meu marido antes que o nosso filho
completasse um ano.
Foi mais ou
menos nessa época que encontrei os livros do mestre Ryuho Okawa. Cada
página estava repleta de respostas para tudo quanto, havia tanto tempo,
eu queria saber. Ingressei na Happy Science e, depois, conheci um homem
maravilhoso e nós nos casamos.
O Estresse de
Criar um Filho
Meu
marido adorava meus filhos como se fosse o pai deles. No ano seguinte
ao do nosso casamento, eu tive mais um bebê, e, dali a pouco mais de um
ano, dei à luz outro menino.
Com montanhas
de roupa para lavar, quartos para limpar e quatro filhos para cuidar,
os d ias passavam voando. Mas meu filho continuava sem reagir a nossa
voz, vivia prostrado, embora já tivesse idade para começar a engatinhar.
Quando se interessava por um brinquedo, passava horas com ele, mas, se
eu o tirasse de suas mãos, ficava tão violento que eu não sabia o que
fazer. Ele ainda não desaleitara, aliás, continuou mamando até uns dois
anos de idade. Eu ficava ainda mais estressada quando me perguntavam:
“Esse garoto ainda mama no peito?”
As coisas pioraram
quando ele entrou na escola. Vivia dizendo, “A escola é chata” e fazia
coisas esquisitas como estudar sentado em cima da carteira ou se esconder
na hora da aula. Na época, eu era membro da APM, e os outros pais me criticavam
dizendo: “A senhora não dá educação a esse menino?” Eu me culpava de não
saber criar meus filhos.
Nós Também Éramos
Pais-Filhos na Vida Passada
Desesperada
por aprender a lidar com meus filhos, eu participei do seminário os Oito
Corretos Caminhos no Nikko Shoja².
Estava, de
olhos fechados, refletindo sobre minha vida, quanto tive uma visão. Vi
os membros de nossa família formarem uma família em outra era. Em certa
ocasião, meu filho mais velho levou- me a Buda; em outra, protegeu a mim
e ao meu marido, levando- nos para um lugar seguro. ... Isso me deixou
desconcertada. “O meu filho, aquele que eu achava tão problemático, é
a ele que devo tanto na minha vida passada.” Eu também tinha ligação com
meus outros filhos, e nossa família já era uma família em vidas passadas,
às vezes em relações diferentes, mas uns sempre se ajudando os outros.
Mentalmente, eu vi o rosto de cada um e senti tanto amor por eles que
comecei a chorar.
Agora eu que
sabia que o destino tinha feito de nós uma família, decidi nutrir suas
almas com todo o amor e carinho possíveis.
Porque Eu Tinha
o Sorriso dos Meus Filhos
Mesmo
assim, criá-los foi dificílimo. Nossa filha mais velha passou para o ensino
médio e não tardou a entrar na fase rebelde. Também notamos o nosso segundo
filho, assim como o terceiro, começaram a apresentar certos comportamentos
que já havíamos detectado no mais velho. E, como se isso não bastasse,
eu tornei a engravidar: a nossa segunda filha, totalizando cinco. Meu
sogro doente, que morava conosco e vivia entrando e saindo do hospital,
contraiu pneumonia e morreu.
Se eu tive
força para enfrentar esses tempos difíceis, foi graças a minha fé no Senhor
e ao rosto feliz do meu marido e dos meus filhos. Eles me ajudavam no
trabalho doméstico, oravam por mim e me estimulavam quando eu adoecia.
A ternura, o cuidado e o interesse que emanavam da família curavam meu
corpo desgastado e meu espírito exausto.
O Diagnóstico
do Médico...
Mais
ou menos quando o nosso filho mais velho iniciou a quinta série, os problemas
comportamentais começaram a desaparecer. No entanto, quando ele passou
para o segundo ciclo, aguardava-o uma disciplina de grupo muito mais rigorosa
do que no primeiro.
“Não quero
ir à escola. Para mim, é difícil fazer a mesma coisa que os outros.”
Foi
a primeira vez que ele manifestou o que sentia. Desde pequeno, evitava
se expressar como se estivesse escondendo uma coisa insuportável. Os professores
e a orientadora educacional achavam que ele tinha um tipo de distúrbio
de desenvolvimento, por isso o levamos a um hospital. Depois de vários
testes, o médico nos disse: “Ele não é intelectualmente deficiente, mas
tem um grave autismo altamente funcional. Nossos outros filhos apresentavam
sintomas parecidos com os do mais velho, de modo que todos foram examinados.
O resultado foi que a nossa filha mais velha também era autista, o nosso
segundo filho tinha a síndrome de Asperger e o terceiro sofria de TDAH¹.
Já aos cinco
anos de idade, nosso segundo filho era capaz de ler um romance grosso,
mas só fazia o que lhe interessava. Era muito eloquente, de modo que às
vezes conseguia vencer a professora em uma discussão. Por outro lado,
era muito ingênuo e, com frequência, tinha problemas de saúde quando se
cansava demais. Nosso terceiro filho adorava ciência e era capaz de desmontar
um relógio rapidamente. Não conseguia ficar quieto durante muito tempo
e perdia facilmente o interesse pelas coisas, de modo que não se adaptava
aos colegas de classe. Sua professora responsável não sabia lidar com
ele e maltratava-o, coisa que o levou a parar de ir à escola.
Havia muita
incompreensão com as deficiências de desenvolvimento e muito preconceito;
a vizinhança espalhava todo tipo de boatos só porque nos via levar os
meninos ao hospital. Mas meu marido me disse delicadamente: “Não acredito
que sejam deficiências, mesmo que o diagnóstico tenha sido esse.” Eu concordei.
“O Senhor deve estar nos dizendo para aprendermos com essas circunstâncias
difíceis. Preciso conservar a fé Nele e seguir adiante.”
Acreditar que
seu Caráter Vai Brilhar
“À
medida que a criança cresce, os pais devem discernir a natureza
de sua alma. A melhor educação consiste em acreditar no poder
da alma individual e permitir que a criança se desenvolva ao máximo
na direção em que ela quiser crescer.”
(do mestre Ryuho Okawa | Dicas para Encontrar a Felicidade)
Eu acreditava
que, mesmo sendo diferente dos outros, um dia seu caráter ia brilhar.
Essa fé me fortalecia continuamente e estimulava nosso filho. Eu não me
cansava de dizer aos outros filhos: “O Senhor El Cantare sempre olha por
vocês. Todos têm uma grande missão. Eu os amo muito.”
Deixei meu
filho escolher um estabelecimento de ensino, e ele escolheu uma escola
livre. Passava os dias passeando na praia e escrevendo romances. Talvez
estivesse organizando os sentimentos à sua maneira. Graças a esse hobby,
arranjou amigos com os quais podia se abrir. Então se matriculou em uma
classe para alunos com necessidades especiais e completou em dois anos
o currículo de três anos do primeiro ciclo. Transferiu-se para um curso
noturno e foi eleito membro do conselho estudantil.
“Esse é o Caráter
Singular dos Nossos Filhos.”
Tendo
aprendido com minha experiência com nosso filho mais velho, solicitei
à escola e à prefeitura classes para alunos com necessidades especiais
para o nosso segundo filho e para o terceiro. Se os professores e colegas
de classe tivessem um mínimo de compreensão, eles poderiam estudar com
os outros, mas o atual ambiente educacional rejeita as crianças “diferentes”
das outras. Eu lhes dizia: “Distúrbio de desenvolvimento não é doença.
É o caráter singular dos nossos filhos. Seu talento inato vai florescer
se lhe dermos a educação adequada.”
Continuei orando
nos templos da Happy Science, e, pouco a pouco, cada vez mais pessoas
inicialmente relutantes com as classes de necessidades especiais começaram
a aderir à ideia. Quando a classe de necessidades especiais finalmente
começou, nossos filhos relaxaram muito; passaram a ser crianças totalmente
diferentes. Vendo o nosso segundo filho e o terceiro florescerem, outros
pais puseram os filhos na classe especial, e o número de alunos aumentou.
Quero
Divulgar Essa Verdade
Eu
era tímida e neurótica, preocupava-me com o que os outros pensavam ou
com os preconceitos no nosso bairro. À medida que fui aprendendo a gostar
do caráter especial dos nossos filhos e a combater o dito “senso comum”
da sociedade, descobri que eu mesma fiquei mais forte e mais afetuosa.
Minha filha
mais velha superou o autismo sozinha, através de seminários em templos,
e atualmente trabalha em uma agência de publicidade. Ao ver como os nossos
filhos mais velhos estão agora, o médico que os atendia passou a dizer
que os distúrbios de comportamento se curam aos vinte anos de idade.
Conhecer verdades
como “pais e filhos têm vínculos profundos” e “a criança também é uma
alma individual e única” possibilita aos pais a aceitar os filhos e ajudá-los
a crescer. Foi o que aprendi com a minha experiência e agradeço aos meus
filhos terem me escolhido para ser sua mãe.
Muita gente
sofre com filhos com distúrbios parecidos com os dos nossos. Agora minha
missão é compartilhar essas Verdades com o máximo de pessoas possível.
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