
Revista
publicada pela Ciência da
Felicidade em janeiro de 1997 |
Meditando
sobre o outono no Japão
Com a aproximação
de um clima ameno, já podemos contabilizar os frutos colhidos
no verão. Quem
se dedicou aos exercícios físicos sente a recuperação
gradativa de energia; quem se dedicou aos estudos está com
o ânimo redobrado em função da mudança
climática e do efeito cumulativo das estações
anteriores. Mesmo os que nada fizeram durante o verão iniciam
a nova estação com vontade renovada, prontos para uma
nova vida.
De minha
parte, pretendo dar o primeiro passo rumo ao outono dando asas à
imaginação e procurando captar os sentimentos e pensamentos
dos leitores neste momento.
Sempre
que se aproxima o outono algumas sensações são
inevitáveis: o frescor do ar pela manhã e, ao entardecer,
a saudade que sinto das pessoas, as elucubrações filosóficas,
os versos que brotam de dentro do coração. São
partes do outono.
A temperatura
que cai, plantas que se preparam para o inverno e plantações
agrícolas prestes a atingir seu auge. Estes são, provavelmente,
os fenômenos que fazem surgir um clima muito especial até
mesmo no mundo invisível. Com
o outono, certas palavras ou literaturas tocam nosso coração,
balançam nossa sensibilidade.
A sensação
típica da estação nos encanta, principalmente
quando pensamos em mergulhar solitariamente numa obra literária.
Talvez porque esta seja a estação própria para
refletirmos sobre a vida.
Por muito
tempo, o homem veio acalentando essa sensação. Bem,
quando a Ciência da Felicidade, estamos completando dois anos
desde a sua fundação em 1987. Muitas coisas aconteceram
neste período. Parece-me que é chegado o momento de
iniciarmos uma nova etapa, uma vez que a base já está
consolidada.
O mesmo
vale para a organização interna. Para o ano de 1990,
estamos programando o "Plano Sunrise ´90" e o nosso
slogan será: "O primeiro passo para o grande desenvolvimento".
Trata-se de um plano para fazer com que o Sol da Verdade suba em todo
o Japão. E o ano de 1989 será o período de aquecimento.
Depois
de três anos de semeadura, estamos para iniciar uma nova fase,
pios creio que a base já esteja consolidada. Portando, o nosso
outono, período da colheita, está se aproximando.
A fase
da colheita
Vamos pensar
sobre a fase da colheita. O que seria colheita ou safra para os membros
da Ciência da Felicidade? Quais condições seriam
necessárias para se caracterizar uma colheita?
Três
requisitos devem ser preenchidos. Primeiramente, estar em constante
"busca do correto coração" e já ter
acumulado anos de vivência neste processo. Pode-se dizer que
o fruto está sendo colhido, desde que aquela procura tenha
sido uma constante na sua vida.
Num primeiro
instante, não é difícil se encantar com a idéia
da busca do correto coração. Porém, com o passar
dos anos, o homem esquece o espírito inicial, deixa de lado
o auto-aprimoramento e se torna ganancioso. Nessas horas, devemos
retornar ao ponto de partida e resgatar o correto coração.
O fruto
daquela busca não pode ser acumulado como uma poupança.
Se pudesse, gastaríamos aos poucos a economia acumulada. Porém,
naquela busca não temos como fazer a poupança. A luta
é diária e a lógica da poupança não
funciona. Temos de praticar a busca pelo correto coração
a cada instante e é por essa razão que devemos manter
tal postura diariamente.
A segunda
condição para se caracterizar uma colheita é
a confiança ou a convicção de ter atingido um
nível razoável em termos de aprendizagem da Verdade
Búdica.
A Ciência
da Felicidade tem como objetivo três itens: pesquisar, exercitar
e difundir a Verdade Búdica. A premissa fundamental é
seguir aquela seqüência. Portanto, em primeiro lugar, devemos
fazer individualmente a "Pesquisa da Verdade". Os orientadores
devem pesquisar e descobrir novas Verdades e os membros, procurar
a Verdade para si, tendo como fundamento a busca do correto coração.
O próximo
passo são os exercícios. "Exercitar a Verdade"
significa interpretar sem erros e de maneira ortodoxa os ensinamentos
pregados pela Ciência da Felicidade, não poupando esforços
para o tal fim e aumentar a capacidade de aprendizagem através
do esforço.
São
muitos os que subestimam tais princípios confundindo-os com
meros estudos acadêmicos. Para esses, vou alertar da importância
de se praticar os exercícios da Verdade. Praticá-los
na Terra tem um valor inestimável. Infelizmente, 99,9 por cento
das pessoas parte para o mundo sem conhecer a Verdade e fica chocado
com a grande diferença entre o seu "senso comum"
e a Verdade.
O destino
de muitos é aprimorar-se num lugar escuro chamado Inferno,
mas não podemos condená-los totalmente, pois eles não
conhecem a Verdade. Por outro lado, não podemos transferir
tal responsabilidade a ninguém. Não há como,
após a morte, apresentar queixas ao Ministério da Educação:
"Vocês são culpados pela minha queda ao Inferno".
Essa espécie
de reclamação não é aceita, na medida
em que muitas dicas os subsídios para a aprendizagem da Verdade
estão espalhados na Terra. Cada um é responsável
por tê-los menosprezados e terá que responder por essa
atitude.
Mesmo dentre
os que não foram condenados ao Inferno, muitos estão
perdidos e atordoados devido ao grande fosso existente entre seus
pensamentos e a verdade do mundo espiritual. Eles vivem perdidos por
50 a 100 anos no Mundo Astral da quarta dimensão. Se tivessem
adquirido conhecimentos da Verdade Búdicas, teriam retornado
diretamente ao mundo de origem e já estariam iniciando novos
estudos ali. Lamentavelmente, a vida na Terra tem sido para eles motivo
de atraso no progresso espiritual.
Por isso
venho pregando a importância de se expandir o movimento de estudo
e exercícios da Verdade, para que possamos inaugurar a era
em que todos tenham tal oportunidade.
Não
podemos nos esquecer que os exercícios da verdade são
também uma maneira de se fazer a difusão. Não
podemos confundir tais exercícios com estudos acadêmicos,
pois eles são meios significativos para a salvação
da humanidade.
A terceira
condição é a "difusão da Verdade"
e vem depois da pesquisa e dos exercícios da Verdade. É
a fase em que se questiona de que forma você está aplicando
os conhecimentos adquiridos; se você os aplica efetivamente
para ajudar seus amigos a se elevarem ou se você meramente os
guarda dentro de si inutilmente.
Seria lamentável
que os estivesse guardando a sete chaves como se fossem um tesouro
exclusivamente seu. Seria o mesmo que ter uma grande safra, porém,
amontoada e abandonada no campo. A verdadeira colheita ocorre quando
a safra é armazenada de modo que todos sejam beneficiados.
Uma vez estudada a verdade, devemos praticá-la, transmiti-la
e orientar os demais.
A primeira
fase da colheita para os membros da Ciência da Felicidade ocorrerá
quando praticarem todos os passos, começando pela busca do
correto coração e pesquisa da Verdade, passando pelos
exercícios, e finalmente, praticando a Verdade, ou sejam fazendo
a difusão, cuja maneira pode ser diversa.
Um dia,
uma vida
Vim discorrendo
sobre a postura exigida de um membro da Ciência da Felicidade.
Agora, eu gostaria de apresentar-lhes um conceito que é novo
e velho ao mesmo tempo: "Um Dia, Uma Vida". Essa expressão
foi extraída do Bíblia como sendo de Jesus Cristo e
diz: "O sofrimento de um dia basta por um dia. Não se
preocupem com o dia de amanhã".
Kanzo Uchimura
costumava falar assim: "Um dia, uma vida. Viver cada dia como
se fosse uma vida toda. Eis o modo mais sublime enquanto cristão".
Entretanto, ela não se limita ao cristianismo, pois é
amplamente utilizada, tanto no budismo como nas demais religiões.
Ela enfatiza a importância de se viver cada dia como se fosse
uma vida inteira.
Mesmo os
variados métodos de reflexão por mim pregados baseiam-se
naquele modo de pensar e viver. Há quem pense: "Uma vida
é uma vida. Basta fazermos o balanço da vida quando
morrermos. A reflexão basta no outro mundo, após a morte".
No entanto, é muito difícil corrigirmos, da noite para
o dia, as distorções e os erros originados nos pensamentos
e atos de dezenas de anos.
Vamos fazer
uma analogia com as tarefas escolares de férias. Não
é possível liquidá-las todas no último
dia de férias e elas não estariam acumuladas se o aluno
tivesse feito um pouco a cada dia.
O raciocínio
vale também para o trabalho. Não se consegue liquidar
uma montanha de trabalho de uma única vez. È fundamental
que a postura de resolver pouco a pouco todos os dias, realizando
infalivelmente a cada dia o trabalho de apenas um dia.
Assim também
deve ser a reflexão. A verdadeira reflexão é
aquela que praticamos acreditando que cada dia é uma vida,
pois o homem se esquece das coisas com muita facilidade. Conseguimos
nos lembrar dos acontecimentos do dia somente até o momento
em que deitamos na cama.
Portanto,
ao fazermos uma revisão do dia, conseguimos lembrar dos erros
e dos pensamentos negativos. Devemos rever os atos negativos, os erros
e o melhor modo de realizar o trabalho no próprio dia.
Com o passar
dos dias mais conseguimos reproduzir a real sensação
de cada acontecimento. Temos também a tendência de acreditar
que os erros cometidos são perdoados com o passar do tempo
e assim acabamos nos esquecendo deles. Contudo, os pensamentos negativos
e os pecados cometidos no dia a dia são como células
cancerosas: se as deixarmos soltas corroerão pouco a pouco
o nosso organismo, até nos derrubarem no berço da enfermidade.
Assim,
se deixarmos solto o foco da doença do coração,
este irá se alastrar pouco a pouco. Por isso, devemos descobri-lo
e trata-lo diariamente. Mais um vez, quero enfatizar a importância
de se adotar o conceito "Um Dia, Uma Vida", também
na reflexão.
Interrompendo
as aflições
Há
também um outro significado contido nesse conceito, o de "interromper
as aflições". Não adianta o homem se preocupar
demasiadamente com coisas do futuro, nem se aborrecer com coisas do
passado. Esta é uma técnica fundamental para se conseguir
uma vida tranqüila.
Mais de
80 por cento das aflições provém de preocupações
do futuro, ou seja, de "ocupar-se antecipadamente", conforme
a própria palavra diz. Não há erro nessa afirmação.
A maior parte das pessoas se preocupam com coisas de um, cindo e até
dez anos para frente. È uma realidade, ao invés de pensar
no momento presente, com freqüência o homem fica a imaginar
as infelicidades que poderão ocorrer no ano seguinte, ou a
se afligir com ameaças imaginárias para daqui a três
ou mais anos. Eis a verdadeira face das aflições.
São
poucos os problemas que teríamos de resolver neste exato momento.
A maior parte das aflições é gerada pela personalidade
aflita de uma pessoa. Elas provêm da personalidade preocupada
que possui uma enorme capacidade em imaginar sofrimentos que podem
acontecer no futuro.
Por outro
lado, ficar pensando diariamente sobre coisas do passado também
nada resolve. Esse tipo de comportamento só reproduz e amplia
ainda mais as aflições.
Por exemplo,
vamos supor que você esteja sofrendo por causa do relacionamento
com uma determinada pessoa, caso a sua aflição seja
derivada de algumas palavras indevidamente pronunciadas, peça-lhe
perdão. Pois segundo o conceito de "Um Dia, Uma Vida",
ao descobrir o que deve ser feito, faça-o no ato. Aquela aflição
será interrompida imediatamente. Porém, se não
tiver coragem de pedir perdão, você terá de conviver
com a aflição hoje, amanhã e mais outros dias,
por erros cometidos há mais de uma semana.
No caso
de um vestibulando, talvez seja justificável a preocupação
com relação ao exame que acontecerá daqui a um
ano. Contudo, adianta se preocupar hoje com a possibilidade de reprovação
do ano seguinte? O que pode ser feito hoje é aumentar a qualidade
e a quantidade de estudos: mantendo esse ritmo por um ano. Por mais
que se torture com a idéia de ser reprovado daqui a um ano,
de nada adiantará. A decisão da vida é diária.
O caminho se desbravará quando nos conscientizarmos que estamos
enfrentado, diariamente o jogo decisivo da vida.
Em suma,
os sábios da vida são aqueles que têm a capacidade
de interromper as aflições. A vida não é
uma carga tão pesada para os que sabem discernir se um problema
requer uma atenção imediata ou não. E seus valores
da vida serão sempre leves, livres e cristalinos.
Alguns
de vocês já viram o trabalho de remoção
da neve acumulada nos telhados das casas. Se não for removida
de tempo em tempo, a casa poderá desmoronar. A neve é
poderosa, O plano de ação contra a tão poderosa
neve é um problema crucial. Embora posso vir a pesar muitas
toneladas, a remoção da neve não requer uma força
equivalente àquele peso. Vocês já viram alguém
remover a neve do telhado com um trator? Ninguém faria isso,
a remoção é feita simplesmente com uma pá.
A neve que pesa muitas toneladas quando concentrada pode ser removida
facilmente com uma pá. Tão simples que até uma
criança seria capaz, pouco a pouco, toda a neve do telhado
é removida.
As soluções
para as aflições também ocorrem dessa maneira.
Se nada for feito, a neve terá o poder de destruir a casa.
Por outro lado, se a removerem pouco a pouco com a pá, o trabalho
não será tão difícil assim. Essa operação
é equivalente a fazer reflexão e agir conforme o conceito
de "Um Dia, Uma Vida". Fazer reluzir toda uma vida é
um trabalho que parece impossível. Fazer reluzir cada dia não
é tão difícil.
Centenas
de livros já foram publicados por mim. Seria impossível
publicá-los todos simultaneamente. Só foi possível
porque escrevi um livro de cada vez. O mesmo vale em termos de estudos
e exercícios da Verdade. Não seria possível estudar
e praticar todos eles simultaneamente. É necessário
um paciente esforço de se estudar um a um. Aqueles que não
conseguem entender o conceito "Um Dia, Uma Vida" devem pensar
profundamente no exemplo da remoção da neve.
Uma
nova vida
Vim abordando
a questão de "Um Dia, Uma Vida". Este conceito pode
também ser aplicado num outro sentido. Trata-se do conceito
que diz: "Cada dia é uma partida para uma nova vida".
O maior
temor do homem não é o inimigo externo, nem doença;
é a indolência, a preguiça e a pacata vida. Eis
a causa dos sofrimentos que nos sufoca. Diante da trivialidade do
dia a dia, a maioria é incapaz de respirar o oxigênio
fresco, de viver solto e à vontade. É como se algo nos
estivesse sufocando. Sob certo sentido, podemos dizer que a indolência
nas rotinas diárias é a causadora dos sofrimentos.
Sendo assim,
o que fazer para dar início a uma nova vida conforme o conceito
de "Um Dia, Uma Vida"? A resposta é: "Não
negligencie na criatividade diária". Este é o primeiro
passo para uma nova vida. Uma vez tendo a consciência de que
um dia é uma vida, não basta despender esse dia apenas
em reflexão. É preciso fazer com que cada dia seja uma
partida ruma à esperança. Diariamente, haverá
uma nova manhã. Temos de estar pronto para uma nova descoberta,
invenção e criatividade.